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Bem Vindo! Sou Francisco!

Meu nome é Francisco, recebido no rito batismal católico em 1968, ano em que nasci. Também sou Ngunz'tala (pronuncia-se Gunzetala) recebido na iniciação no candomblé de Angola, raiz Tumba Junsara, em 1997.

Nasci no meio das matas maranhenses, onde fui criado seminu, caçando, plantando e pescando. Morei em casas de taipa até aos 14 anos, idade com que mudei para uma vila mais avançada à beira da BR 316 chamada Cocalinho, hoje distrito da cidade de Zé Doca - MA. Mesmo trabalhando muito, nunca deixei de estudar, ainda que as escolas fossem situadas longe de minha casa. Caminhava muito: aos cinco anos já estava alfabetizado e aos 10 anos era animador da comunidade da igreja católica (época das comunidades eclesiais de base e teologia da libertação). Tornei-me catequista e aspirava ser padre.

Já com as conversas adiantadas com o Bispo para frequentar um seminário diocesano, aos 16 anos me converti a outra tradição cristã até então muito discriminada - Assembleia de Deus - e me tornei "crente", termo que era usado de maneira preconceituosa.

Sempre fui uma pessoa de fé e de percepção avançada em relação à realidade que vivia. Sabia-me e sentia-me diferente dos outros meninos da minha idade, mesmo fazendo tudo que eles faziam. Vivia diferente, as coisas tinham significados diferentes e quando chegou a puberdade, a sexualidade também despontava diferente e eu não sabia o que era, pois naquelas paragens e naqueles tempos não havia conceitos construídos sobre a diversidade das orientações sexuais. Eu era um menino hétero e assim tinha que ser pois esse era o único parâmetro, porquanto os outros meninos se sentiam atraídos pelas meninas. Mas eu era diferente. E era diferente também na fé, porque era contrito nas minhas vivências, e mesmo criança vivia todos os momentos sagrados com muita intensidade.

Com a ida para a Assembléia de Deus, intensificou-se a minha devoção - como é o costume nestas igrejas que baseiam-se na conversão de outras pessoas - e eu já com a inclinação natural de crer, mergulhei fervorosamente e vivi grandes experiências espirituais.

Por outro lado também sobressaiam as minhas diferenças. Meu sentir sexual e meu raciocínio rápido demandavam uma certa lógica que me fazia viver meu próprio calvário. Namorei muitas meninas e tinha que me casar logo, pois "é melhor casar do que se abrasar".

Aos 19 anos, depois de um noivado desfeito pela noiva sem maiores explicações (talvez ela tenha sentido o que nem eu mesmo sabia em mim - risos), viajei para Brasília de surpresa, avisando aos meus pais somente quando aqui cheguei, foi então que me juntei a meu irmão mais novo e comecei uma nova vida no Planalto Central.

Depois de passar por muitas necessidades em todas as áreas e viver muitos dilemas, comecei a cursar Teologia na Faculdade Teológica das Assembléias de Deus, hoje Faculdade Evangélica - FE, na 910 Sul (a famosa igreja da baleia, pelo seu formato arquitetônico). Tornei-me Pastor Evangelista, professor na escola dominical, lugar onde conheci uma garota com quem me casei e tive uma filha linda, nascida em 1992.

Com tudo isso, minha natureza não mudara. Os sofrimentos não diminuíam nem com todo o jejum, vigílias e orações. Era o meu espinho na carne. Continuava atraído por outros homens e via na igreja, além das atrações mútuas entre os iguais, outros sofrimentos iguais ao meu. E a fé e o medo de desagradar a Deus eram o motivo do sofrimento e da dor.

Em 1995, enquanto frequentava o curso técnico em enfermagem, tive uma experiência espiritual que não conhecia e que abriu a minha mente para a compreensão do divino – e não somente para a aceitação de uma mensagem que se dizia de salvação – mas que era, no entanto, de condenação, pois ia de encontro ao credo então professado, e se eu não agradasse a Deus de acordo com aquele credo eu seria condenado. Nessa época conheci um rapaz que conseguiu me tirar do casulo e me reconhecer de maneira plena e sem culpa. Ele era da Umbanda e do Candomblé.

Libertei-me e me uni a Deus pelo amor. Somente muito tempo depois reconheci quem seria o responsável por esta experiência: Pai Benedito da Kalunga, que hoje é meu amigo, meu ensinador, meu ancestral guia e um mensageiro divino constante.

Depois de estudar muitas religiões, os Mestres Ascensos (Luz Violeta), fazer cursos (de astrologia, de massagens, de desenvolvimento kardecista), tive contato com o candomblé e os Deuses que dançam; e são tão humanos, tão presentes e com uma visão de mundo tão diferente que me encantei. Em 1997 fui iniciado no Candomblé de Angola por Tata Atirezim, a quem devo muito e sou muito agradecido.

Depois de morar em vários lugares do Brasil e fora dele – também morei em Londres, tudo isso para tentar esticar a corda como lembra Pai Benedito da Kalunga – em 2005 consegui comprar um terreno em uma cidade do entorno do DF, em Águas Lindas de Goiás, e ali no cerradão, no meio do nada, comecei outros horizontes.

Por muitos dias e noites trabalhei só. Nzambi Mpungu (Deus Criador na cosmologia afro-banto-brasileira) foi agregando amigos, irmãos, filhos, ajudadores. Ainda em 2005 começamos a cuidar da comunidade e a abrir Sessões de Umbanda (mesmo que fosse sem a presença de pessoa alguma, lá estava eu na hora e dias marcados e a espiritualidade nunca me deixou só). Em 2007 a casa foi formalmente inaugurada como casa de candomblé recebendo o nome de Terreiro Tumba Nzo Jimona dia Nzambi (a Casa dos filhos/filhas de Deus).

Hoje, depois de muitas lutas, trânsitos, idas e vindas, vivências e acontecimentos, inauguro este blog destinado a publicar minha ideias sobre assuntos diversos, qualquer assunto que me atrair ou me sentir inspirado.Como um blog, é algo pessoal: para pensamentos e reflexões pessoais.

Não me manifestarei somente como sacerdote ou de maneira institucional. Falarei do que penso, do que sinto, do que vivo e do que vejo por que tenho um compromisso com o meu pensar, com o meu olhar para o mundo, ou do jeito que o mundo se imprime em meu olhar e em meu sentir. Mas saberei agradecer as opiniões respeitosas e contrárias.

Sejam bem-vindos.

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