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Aos ancestrais...

É uma data do calendário cristão que inicia o mês de novembro com o dia de “todos os Santos” seguido pelo “dia de finados”. É de se pensar que em um dia se celebra os “santos” e no outro, os “finados”.

Considerando que em ambos os casos se referem a pessoas que já viveram na terra, os santos também seriam “finados”, pois aqui viveram e morreram, mas são tratados à parte. De certo modo é a exclusão da condição de humano. A Canonização pela liderança da igreja ao tornariam imortais venerados, e os demais seriam “finados”, findos, humanos.

Independente do dia e da tradição, todas as religiões primárias, ou naturais, mantém um relacionamento estreito com a ancestralidade. Neste mês também é o tão falado mês da consciência negra, como resultado da história luta de Zumbi dos Palmares pela liberdade e pela resistência ao regime escravocrata. Neste particular ele representa toda história de resistência, inclusive as atuais, bem como sintetiza o reconhecimento e tributo ancestral e como um ancestral afro-bantu-brasileiro é lembrado e venerado pela sua história, tendo porém muitos outros foram esquecidos, finados.

Lembrar, cultuar, chamar e conviver com quem já passou por aqui é uma realidade para muitos povos. No Candomblé, por exemplo, não se faz nada sem chamarmos nossos ancestrais e sem antes de tudo os trazermos à lembrança nesta dimensão.

Não é um culto a mortos. Não é culto à morte. É um culto e um reconhecimento à vida e a seus atores, sem ter que necessariamente os tornar santos ou profanos finados. É o reconhecimento de que a vida é eterna, embora o vivo seja efêmero.

E o melhor é que nossos ancestrais são lembrados independente de suas qualidades morais ditadas pela sociedade. Um ancestral, é um ancestral. Nunca vai deixar de ser e continuará vivo sempre independente dos seus feitos.

Não existe no olhar africano tradicional a ideia de santificação como algo separado do cotidiano ou reservado e consagrado para o culto ao sagrado fora do contexto da normalidade da vida. Tudo está em tudo.

O sagrado permeia todas as coisas e o profano também, se completando sem necessariamente passar pela dualidade do bom e do ruim, do certo e do errado, do santo ou do demônio, da salvação e da condenação, etc...

A consciência negra que não faz parte da rotina dos brasileiros é lembrada somente como uma data a ser comemorada, ma se levarmos em conta o herói ancestral Zumbi, não tem nada demais lembrarmos dele em novembro pois é a data que lhe é atribuída e a nossa base social não fica lembrando dos outros heróis nacional diuturnamente.

Agora, se pensarmos pelo olhar ancestral, a raiz da nossa sociedade e das nossas propostas de libertação e liberdade, ele passa do panteão heroico para ocupar um lugar na linhagem ancestral, que neste caso particular não precisa significar necessariamente laços sanguíneos, mas laços ancestrais históricos que também vão muito além da cor da pele e da origem étnica. É isso que é olhar africano para a ancestralidade, para a vida cotidiana que se entremeia com o sagrado, ou melhor, que não se separa, não se bifurca.

A todos e todas, feliz mês de novembro.

Feliz lembrança de seus ancestrais, para que eles continuem vivos nessa dimensão.

Feliz consciência histórica que não deixa morrer a consciência negra dos nossos ancestrais!


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