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Os nossos machismos modernos.

Em minhas andanças pelo mundo virtual - Sim, eu também navego pela Rede Mundial. Descobri este artigo assinado pelo Fabricio, um blogueiro já conhecido e admirado por muitos. O texto me fez pensar e repensar muitas coisas. Convido você a fazer o mesmo. Que tal? Boa leitura.

Não adianta malhar e não estar com a depilação em dia. Saber se comportar em público é fundamental. Na hora H, seja higiênico e faça sua chuca. Não é por ser gay que precisa agir que nem mulherzinha. Pegação? Isso é coisa de quem não se dá ao respeit… Ah, pára! Estamos dentro de uma revista adolescente?


É impressionante. O mesmo machismo que inferniza a vida das mulheres alimenta a obsessão gay por comportamentos culturalmente estabelecidos como “masculinos”, fazendo com que alguns homens gays vivam para satisfazer um ideal ridículo: transformarem-se em donas de casa dos anos 50! Sim, na era dos encontros via app, do pós-feminismo e até da – cof,cof – pós-homofobia.


O movimento gay segue um padrão calculado de consumo, que é branco, classe-média, tem curso superior e “gostos refinados”. Se o cara “der pinta”, é melhor que seja o cabeleireiro engraçado ou o amigo fofo da menina moderninha, mas se puder ser discreto e agir feito homem, melhor. Esse é o padrão de gay aceitável. Um “gay ideal” que não faz alarde da sua sexualidade e que não ameaça a “família tradicional”.


Vamos comentar a psicose por tamanho de pau? Melhor não, né?


É para adequar-se a esses modelos que a comunidade gay segue endeusando a figura do macho e buscando um ideal superlativo de masculinidade que está fora de moda até entre os heterossexuais. É por causa desse “santo graal” que as outras letrinhas em ALGBTTQI+ continuam à margem, já que é mais fácil “vender” a comunidade GGGG do que gritar pela diversidade como um todo. A lógica é simples: se somos mais aceitos, o resto que se dane!


E assim, conquistamos o título duvidoso de privilegiados – para não dizer opressores – entre os excluídos…


Para agradar a um homem hipotético, criamos uma subcultura que está se apegando às coisas que, com muito custo, o mainstream vem fingindo tentando abandonar. A hipermasculinização insensível, os modelos opressores de estética, a higienização da sexualidade, o controle dos corpos… Tudo isso ainda faz parte do cotidiano ocidental, mas vem mudando. Aos poucos, o debate sobre a liberdade individual vem conquistando espaço e rompendo esses grilhões – mesmo que para muitos ainda seja “da boca para fora”. O avanço mundial do conservadorismo é sintoma dessa mudança, pois mostra que as estruturas arcaicas de poder estão se abalando. Não faz sentido que sejamos nós, os “marginais”, a clamarmos por aquilo que a moral que nos exclui chama de “valores”.


Homens tem pelos. Alguns tem muitos, inclusive nas costas. Existem caras bem dotados que preferem ser passivos, assim como homens baixinhos ou asiáticos ou de pinto pequeno ou tudo isso junto, que não são obrigados a gostar de dar. Tem bicha afeminada que prefere ser o ativo dominador, e machão barbado que usa calcinha. Existem casais de bibinhas que vão muito bem, sem nenhuma “quebração de louça”. Gays que não curtem penetração – e nem estou falando de G0ys! Mulheres com pênis e homens com vagina. Casais monogâmicos e a galera do poliamor. E mais: fazer a chuca não é nenhuma obrigação, já que todo mundo sabe onde está se metendo.


Precisamos parar de criminalizar nossa sexualidade. Não dá para dizer que o preconceito contra gordos, afeminados e negros é “questão de gosto” ou que depilação é uma “questão de higiene”. Essas preferências são construções culturais, baseadas no que é vendido diariamente como CORRETO – mesmo dentro de um grupo dissidente. É perfeitamente legítimo que alguém opte por esses conceitos, que “compre o produto”. Não há mal nenhum em ser discreto-sarado-depilado-de barba, desde que esta essa seja uma escolha consciente. A pressão para que todos nos enquadremos a esse modelo já é grande demais, então não dá para contribuir com a opressão ao tratá-lo como a única opção aceitável, como se todos que divergissem dele fossem fracassados dignos de desprezo.


Somos seres sociais e a aprovação do grupo é um fator importante. Sendo parte de um segmento historicamente perseguido, essa necessidade é ainda mais radical. Passamos a vida tentando agradar aos homens, tanto na cama – quando falamos de nossos parceiros – quanto em sociedade – quando falamos no “bicho Homem”. O grande salto para a liberdade se dará quando percebermos que o único homem a quem devemos alguma coisa é aquele que nos encara do espelho!


Sim, é o tipo de filosofia riponga digna dos discos da Xuxa ou dos livros do RuPaul. Mas é verdade. Se você se ama, os outros percebem e tudo flui bem.

Permita-se. Seja livre. Seja fabuloso.


Texto: Fabricio Longo


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