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À Mãe Baiana!

Dia 26/12/2014, acordei com uma entrevista na televisão de uma Yalorixá respeitada pela sua luta e fé tanto dentro das tradições do conhecido Candomblé de Ketu, como também em outras tradições de candomblé e afro brasileira.

Era Mãe Baiana falando da sua fé nos Orixás e da positividade Deles/Delas em sua vida e convocando a todos e todas a ter fé no ano de 2015, independente dos acontecimentos. Na hora relembrei tudo que passamos nos últimos quatro anos e visualizei a situação que a Casa de Yansã, da qual Mãe Baiana é Sacerdotisa se encontrava e como ela nunca perdeu sua fé.

Fiquei pensando que quando mantemos nossa fé nos momentos de dificuldades e provação, ela é honrada pelas nossas divindades e pelos nossos ancestrais.

Só Mãe Baiana e as pessoas que são engajadas em nossas causas sabem o que ela passou de fato ao ver sua casa derrubada pelo desmande público e preconceito institucionalizado, pois igrejas e outras edificações no mesmo local nunca foram incomodados, e o templo de candomblé foi derrubado.

Ela teve que viver e morar em locais improvisados e precário, contar com a ajuda de irmãos e amigos, enquanto os Ibás das divindades foram acomodados em palhoças e embaixo de árvores.

O tempo passou.

O vento levou a voz de Mãe Baiana e nossa voz, e quem vivia perseguida foi elevada a um cargo público como Diretora na Secretaria Distrital de Igualdade Racial, e sua casa foi novamente consolidada, sua fala e sua pessoa passou a ser um expoente da nossa fé no Distrito Federal e Entorno e no Brasil!

Quem é fiel à sua fé nos momentos de dificuldades, tem o seu valor reconhecido e seu enaltecimento dentro da estrutura social que ocupa!

Hoje Mãe Baiana dá entrevistas em rede nacional, se torna porta-voz de todas as tradições afro junto às autoridades de todos os escalões, e sua casa e sua vida de fé são conhecidas e respeitadas (embora a legalização do terreno ainda esteja pedente e cabe a todos/todas nós nos unirmos nessa luta)!

Tenho certeza que pessoas equivocadas com nossa fé fizeram críticas quando a casa de Oiá foi derrubada, e alguns com certeza acharam que alguma coisa errada ou um feitiço estava atuando, que ela não tinha sido fiel à sua fé, quebrado algum tabu, rompido com alguma quizila, etc... Tenho certeza que ela foi julgada de todas as maneiras!

Aquele episódio fez com que a casa de Oiá fosse conhecida, o preconceito real fosse escancarado, muitas vozes levantadas, e Mãe Baiana que parecia está sendo humilhada, foi engrandecida em sua fé e na sua história de luta.

O que a gente tem que passar a gente passa, mesmo que naquele momento não seja bom ou fácil, mas o sagrado em nós, que vibra em todo universo em nossas mutuê/ori sabe manifestar o amor divino mesmo nos momentos de dores.

Hoje Mãe Baiana é uma prova viva do plano divino que se realiza mesmo que seja utilizando um momento de dor, pois a desconfiança de que ela estava em falta com suas divindades e que estaria sendo punida (infelizmente ainda temos esse olhar dual, herdado do cristianismo); que ela estava sofrendo alguma demanda ou feitiço (mais uma vez, infelizmente, ainda alimentamos essa ideia de feitiço na nossa estrutura de fé, como se nossas divindades e entidades fosse mercantilista, e quem desse mais conseguiria mudar suas naturezas amorosas e que não existem grandes guardiões da Lei Universal a agir entre nós, a exemplo de Pambu Njila, Exú, Legbara...); e de que era seu fim, sua derrota, talvez, até celebrado por muitos.

Convivi com Mãe Baiana e nunca a vi nem ouvi apostasiar de sua fé; nunca ouvi uma blasfêmia de sua boca; nunca a ouvi culpando divindades nem entidades, nem encarnados, como sendo possíveis culpados dos acontecimentos que a alcançaram, embora tenha se engajado na luta contra o preconceito institucionalizado. Hoje ela é enaltecida e entrou para a história do Candomblé de Brasília, e mesmo depois que fizer a grande viagem guiada pela sua Oríxá Yansã, será uma ancestral lembrada por todos e todas que permanecerão do lado de cá honrado sua fé nos Nkisi, Orixás, Voduns e Encantados e entidades.

Aproveito esta última mensagem do blog para o ano de 2014 para homenagear Mãe Baiana do Ilê Axé Oyá Bagan e para convocar a todos e todas a serem fiéis às suas crenças legítimas e verdadeiras, e mesmo que os acontecimentos não pareceram no primeiro momento como algo favorável, saiba que a presença divina em você pode transformar em uma escada para nosso crescimento. E este simbolismo fala muito para nós de Angola que cultuamos Tat'etu Ndembwa – Tempo – cujo um dos símbolos é uma escada, ensinando que o tempo passa e quem sabe aproveitar os ensinamentos dos acontecimentos passageiros se eleva e que tudo passa nesta dimensão!

Não pratiquem nossos cultos como moedas de troca, como se tivesse cultuado Nkisi. Orixá e Vodum e agora nada mais que considere menos bom lhe aconteça. Quem tiver que nascer morrer, ganhar, perder, amar, desamar, enriquecer, ter prejuízo, etc... Vai passar por isso, mas que sua fé faça com que estes acontecimentos sejam uma seta ao infinito (mais uma vez o símbolo de Tat'etu Ndembwa) para te projetar de maneira altiva e vitoriosa neste mundo e nos mundos de Ngana Nzambi Mpungu (Deus Todo Poderoso)!

Fé, clareza, identidade, certeza de legitimidade, resistência, perseverança e resiliência sejam palavras que te acompanhe em 2015 tanto nos momentos de sucesso, como nos de insucessos que porventura te alcancem!

Parabéns a todos pela fé preservada durante as lutas!

Peço a benção aos mais velhos e mais novos!

Peço a benção a Mãe Baiana e a todos que são fiés a sua fé respeitando a diversidade de crença e até quem não tem crença alguma!

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