Hoje estou vibrando no ritmo do tambor. Lembrei do "arrebate". Aquela batida inicial que geralmente se usa para formação da roda de Candomblé nos cultos públicos e coletivos, usado em todas as nações, inclusive na nação de candomblé Angola (Que também pode formar a roda em outros ritmos e toques). A base dos cultos afro brasileiros, com raras e justificadas exceções, é circular.
Atualmente existe uma classificação como "danças sagradas circulares". O termo é novo, mas a concepção e o conceito de mundo são antigos, talvez um dos mais antigos jeito de cultuar: cantar, tocar, dançar e interagir. Interagir sim, porque é na roda, é no giro, é no movimento que a interação se dá.
Quando os três jingoma de Angola - instrumentos de percussão, provenientes, provavelmente do povo bantu Tchowke (outros povos usavam um conjunto maior de instrumentos), que denominamos Ngoma Tixina = O Grande (ou Ngoma Nene), Ngoma Mukundu = O Médio, Ngoma Kasumbi (ou ndenge) = O Pequeno - tocam, se faz o ritmo e o canal de comunicação entre as dimensões ancestrais e divinas e humanas (que não são menos divinas).
A gira, a roda emblemática e representativa, pretende ser uma dança capaz de fazer emergir o respeito ao próximo, o carinho por si e pelo outro e a melhora da autoestima, já que é dançada em grupo. Quando englobada pelo universo místico-religioso do movimento Nova Era, as danças circulares centram-se na noção de “energia”, já que se acredita que a roda, formada pelas mãos dadas dos praticantes, sejam capazes de fazer circular uma energia boa, podendo até ser curativa. Os nativos das Américas praticam este formado de dança circular, seja culturalmente, seja ritualisticamente.
Pensando no Candomblé ou na Umbanda que também usa desta estrutura, vamos ser levados para o mais profundo do ser.
Na Umbanda, por exemplo, entidades giram o corpo do filho, pois assim expande-se a áurea ou os corpos espirituais sutis, possibilitando uma maior intimidade na manifestação espiritual.
Tudo no Candomblé tem circularidade incluindo a comida ritual que é mexida no sentido horário. Quando se faz uma roda de candomblé se recria o mundo. Talvez o início de tudo, o primeiro momento que a consciência se manifesta no sentido de se individualizar, criando assim deuses, céus e terras.
É a galáxia, é o sistema estelar, é a circularidade da vida.
Se recria os ciclos de vida e na terra e de evolução do ser humano e seus conceitos.
A primeira consciência surge antes de tudo e antes de qualquer outra individualidade, tomando o seu espaço em um movimento contínuo do giro.
Continua no proximo post.
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"Eu sinto a dor daquele que se sente agredido, mas também sinto a dor do que agride. Ambos são polos da mesma força."