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Refazendo a gira e a vida na terra!

Kiamboté Pambu Njila. Deus em forma de caminhos e de movimento que a tudo faz movimentar-se também. Força motriz por excelência e latente em todos os seres e em todas as formas.

É a gira primordial. O Nkisi que a tudo movimenta.

Depois de tudo, a terra esfria, esquenta, congela, queima, e o surgimento da vida que é proporcionada pelo eterno movimento dos ciclos naturais que estão se formando (raios e meteoros que caem na água), proporcionado pelo girar da terra ao redor de sua estrela que também gira, o ser humano já está em sua fase de nomadismo, porém a escassez já bate à porta (não dá pra viver só de coleta e de caça), então, o instrumento que antes era de pedra agora precisa ser de metal e o sagrado precisa guerrear para poder sobreviver a espécie, e vem os instrumentos de trabalho, mas também nasce a natureza bélica na força do metal: Kiuá Nkosi, o Senhor da forja, o comedor de cabeças! Deus em forma de guerreiro!

Segue a roda!

Agora já com o metal e com a capacidade de maior interação com a terra, Deus em forma de caçador e pastor e agricultor chega à terra.

Só coletar não é possível.

A espécie vai morrer de fome, pois está crescendo muito e não dá pra andar a longas distâncias com a prole aumentando.

Só caçar também não é possível, pois assim se exterminariam as espécies animais.

Deus ensina os seres humanos a cultivar a terra, plantar para colher e não só coletar, e domesticar os animais. Por isso que os animais que sacralizamos no culto para nos alimentar são os domesticados, pois estes não estão em risco de extinção, como muitas espécies silvestres. Kiamboté Cabila Duilo! Mutalambô, Gongobira! Salve o caçador dos céus!

Ai segue-se a roda, vamos para a louvação das folhas, aquele ser que habita encantadamente no seio das florestas escuras e manipula o vegetal e o preserva, longe do fogo e da destruição humana (por isso cultivar foi tão importante, para não se sair destruindo tudo indiscriminadamente).

É a folha.

É o pequeno lagarto que tem a sua pele usada para guardar os unguentos, é a sobrevivência da flora. Katendê Nganga! Katendê!

Vem a terra, em sua própria natureza sendo louvada.

Nsumbu, Kavungu, Kigongo, a força motriz e o dínamo que mantem o interior da terra em movimento circular gerando força de atração mantendo-se assim a proteção da atmosfera.

A terra que transmuta tudo que nela cai e a superfície que recebe a luz solar possibilitando a vida em suas formas diversas.

Vem o movimento atmosférico e cronológico... Vem Ndembwa, a brisa sagrada, o Tempo, o que girando traz a chuva e os ciclos necessários à vida. Bandeira banca no alto do mastro mostra a direção à seguir como uma "biruta" tocada pelo vento revela de que lado o vento vem e para onde vai, mesmo que não consigamos ver como nossos olhos. Nzara Tempo! Tempo é a direção.

O arco - iris no céu lembra o final da era onde as águas se separam da terra formando as águas debaixo e de cima. O vapor, o gasoso hídrico que circunda toda a terra e mantém a vida e traz novos ciclos. É a cobra sagrada que morde o próprio rabo para manter tudo girando e em movimento e para que não espalhe, mas mantenha tudo unido no eterno girar da gira. É Angorô, Hongolo menhã!

Segue o ciclo e vem o raio. A mão do Tempo, que anuncia e prenuncia e faz renovar as cargas elétricas do planeta e da atmosfera, sempre seguido por períodos chuvosos ou secos, ou seja, faz o ciclo e o círculo da vida girar. É o grande Rei Sobá que vem do céu. É Nzazi. É Luango.

Tudo isto é necessário que o fogo que inflame o oxigênio e o movimento dos ventos derrube as folhas secas e espalhe as sementes para que os brotos se renovem. É a lembrança dos ancestrais quando lhes oferecemos as primícias das nossas colheitas numa demonstração clara que sabemos que a vida é eterna e só o vivo que se transforma! É Matamba, é Kayango! É Bamburucema! É a força que traz o ciclo das águas!

E ai já vem as águas propriamente ditas!

A separação das águas gerou grandes reservatórios em cima e embaixo. As águas que se precipitam do céu tocados pelo Ndembwa, Angorô e Bamburucema infiltram na terra e nascem límpidas e brilhantes num pé de serra, num tronco de árvore, num pé de rochedo, numa enseada, num deserto, etc... É a beleza de Deus. É forma de mãe que fecunda e cria no seu vente de águas. É a beleza da faceirice de mulher que como um bailar de águas atrai todos os olhares e desperta todos os desejos. É mãe. É mulher. É Ndadalunda, É Kissimbi!

Segue-se pelas grandes águas alimentadas pelo eterno ciclo das nascentes que todas nelas desembocam e pela evaporação constante como se fosse um grande caldeirão, um grande espelho ou um grande ventre que faz jorrar consigo a vida. É a interação com os vento que o faz constantemente inquieto! É Kayala. Samba dia Mongua!

A benção das águas salgadas, que interage com as lagoas e lagos onde a vida flui e a justiça e beleza e alegria são mantidas. Como diz o poeta na voz de Maria Betânia "perto de muitas águas, tudo é feliz!" É Wungi é a grande brincadeira colorida!

É a interação com as terras roxas que filtram as impurezas que vez da terra firme para não entulhar os veios d'águas. É é o berçário das espécies que renovam a vida e oxigenam a terra e os oceanos. É a intermediação entre as águas e a terra seca. É a lama. É o pântano! É Nzumba Kianda!

Tudo isto embalado pela brancura e infinitude que envolve circularmente a terra na forma de doçura guerreira ou na força de quem decididamente, mesmo curvado, se for o caso, carrega o mundo.

Carrega eu e você.

Carrega nossos desequilíbrios morrendo e renascendo a cada entardecer e a cada novo amanhecer. É Lembá o Senhor da doçura. É Lemba ria nganga, é Jamafurama. É Deus pai e mãe, pois se autofecunda gerando este grande ventre de seres que é a atmosfera que em sintonia com a força na terra se mantém atrativamente a ela ligada protegendo dos raios solares que aniquilaria a vida biológica.

E assim a roda se fecha.

Segue na próxima publicação.


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