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Por um País sem ódio

Que País é este? Onde cada um pode ser o que é e acreditar no que conseguir ou não ter fé alguma e que ter uma fé diferente da maioria não deveria ser motivo para ser atacado e vilipendiado? Onde as diversidades culturais, religiosas, sexuais e étnicas não são respeitadas?

Que lugar é esse em que há de fato um projeto de inclusão dos historicamente excluídos e não um discurso da meritocracia com concorrentes que não vem de situações e oportunidades iguais? Ou onde se tem oportunidade de trabalho digno e renda? Que se tenha segurança, garantias constitucionais respeitadas para e por tod@s? Que tenha inclusão de renda para os mais pobres que, por motivos históricos, não conseguem se enquadrar em um sistema que massacra e não promove dignidade?


Que tem saúde e educação plena para seus cidadãos e cidadãs? Onde os direitos individuais e coletivos são respeitados, onde a justiça faz jus ao nome e os agentes por ela responsáveis não agem com desrespeito e não matam os que devem proteger?


Que País é este?


Com todas estas perguntas e outras tantas, nos reunimos no dia 30/03/2016 no Plenário 10 da Câmara dos Deputados, com a presença de uma grande parte da diversidade religiosa deste País a saber: Sacerdotes dos Povos de Terreiro (Candomblé, Umbanda, Jurema, Catimbó e Batuque), Pastores e Pastoras de várias denominações protestantes e evangélicas, Padres, Freiras, pessoas religiosas e leigas de várias tradições Católicas, Budistas, Povos de diferentes Nações Indígenas, Povos oriundos de práticas religiosas da Amazônia (União do Vegetal, Daime, Umbandaime) sociedade civil em geral, parlamentares das duas casas do parlamento, ateus, agnósticos, os chamados neopagãos e pessoas oriundos de vários partidos políticos.


O objetivo era vibrar, pensar, rezar, mentalizar, emantar e gerar um espaço energético sagrado e mítico para que o País em que vivemos encontre as respostas a todas as perguntas iniciais. Para nossa surpresa diante desta diversidade religiosa onde cada um falou quem era (do jeito que gostaria de ser reconhecido) e qual origem religiosa, política ou social que esposava. Contamos também com participação dos que não professam nenhuma fé, mas que se envolveram num enlace de paz e alegria e que se desenrolara em um grande congraçamento por nos reconhecermos todos e todas na plenitude do direito de abençoar o nosso país e sermos proativos na realização do bem comum.


Não obstante a tamanha beleza, fomos cercados por religiosos pertencentes a alas predominantes e detentoras atualmente do poder dos meios de comunicação e, inflados por um ódio “sagrado” gritaram palavras de ordem, nos amaldiçoavam e nos exorcizavam só porque, supostamente, não tínhamos a mesma fé que eles. E isto no espaço que deveria ser democrático por excelência: a Câmara dos Deputados , a casa de todos os povos.


É este o momento crítico que vivemos e não é este o país que queremos.


Não objetivamos a defesa pessoal de ninguém que tenha praticado algo que necessite se defender, mas nos solidarizamos e reforçamos que as garantias de defesa sem politização sejam também sagradas. Ainda mais porque sabemos que o sagrado é justiça e quem assumiu o compromisso de não se sujar com quem historicamente viveu na lama da corrupção deve sim responder com todas as garantias e mas tendo respeitados os seus direitos consagrados em nossa Constituição e se for o caso, sejam responsabilizados por seus atos. Responsabilidades estas que também poderão vir direto das urnas por meio das cobranças populares, mas nunca num processo que gere instabilidade jurídica, política e de governabilidade.


Claro que a fé, a razão e o compromisso de não termos vendas nos olhos precisam ser mantidos, mas não em um país onde inflado por setores da mídia, o povo se sinta justiceiro e abra mão do devido processo legal e da segurança jurídica. Não é um país onde o sujo fala do mal lavado e o roto queira criticar o rasgado e o cego aplauda ou ache que o poder constituído possa ser violado para se faça justiça. Não é um país onde uma fé detentora de poder politico e de mídia se julgue única verdadeira (toda fé se julga verdadeira) e por isso acredita que pode quebrar, queimar ou violar os espaços, os direitos e símbolos sagrados de outra pessoa. Cada ser deve defender e viver intensamente sua tradição de fé ou não ter nenhuma, mas com o compromisso social de se enjangar e fazer a defesa dos direitos universais, e do tratamento igual inclusive para os diferentes e para os que pensam diferentes, respeitando-se a particularidade de cada situação.


Como pertenço a um povo de tradição africana faço logo minha ligação com nossa roda de culto (o culto coletivo e público da maioria das tradições de terreiro é feito de maneira circular), onde o mais velho e o mais novo fecham o ciclo como elos de uma mesma corrente. Acredito que temos muito a oferecer para este mundo tão conturbado, como organização humana, como povo que convive em harmonia com o meio ambiente (já que tem consciência que faz parte dele), como povo que respeitas as demais manifestações sagradas do planeta. Assim, avoquei em minha memória a hierarquia afro dos terreiros que é sempre horizontal, espiral e ascendente (como diz Makota Mulanji) e que ninguém é maior que ninguém.


A lição que os religiosos e religiosas trouxeram na nossa reunião foi de que é possível viver de maneira respeitosa com a diversidade, sem diminuir a fé do outro e saber que ninguém deva sentir-se superior ao outro. Não é necessário derrubar alguém que não gosto ou que contraria alguns interesses, para fazer com que o bem coletivo cresça e prevaleça. É este país que queremos onde ideias, pensamentos e ideologias diferentes sejam respeitadas sem que ninguém se sinta violado e tudo seja considerado para o bem comum.


É um país em que os avanços sociais e democráticos, as conquistas individuais e coletivas não sejam colocadas em risco por causa de um interesse escuso e que não se justifica aos olhos de uma verdadeira justiça. Por isso, quero convocar você a rezar, orar e abençoar o nosso país, para que não tenhamos que refazer lições dolorosas já aprendidas (ou pelo menos, vividas) anteriormente. Que tenhamos um raciocínio claro, respeitoso e acima de tudo esvaziado de ódio.

Acredite e defenda o seu ponto de vista como se fosse parte do seu culto, mas respeite, zele e defenda que sejam respeitadas as diversidades, as instituições, as regras básicas de direitos universais, individuais.


E assim, um dia, quando nos fizerem todas as perguntas iniciais, responderemos que este país é o Brasil, construído pela diversidade de fé e cultura, impulsionado pelas mensagens religiosas pacíficas e pacificadoras e pelas ideias e ideais políticos diversos, mas que vivemos em harmonia com todas as diferenças e igualdades.


Para isto te convido para fazer do seu culto e das suas ações protestos pacíficos e amorosos diários que tenham impacto direto na vida humana e nas demais formas de vida que compartilham este planeta conosco!



Tata Ngunz'tala

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