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A voz divina


Uma pessoa de minha convivência ouviu um pouco de uma conversa de um grupo onde seu nome foi citado e depois me interpelou sobre as possibilidades de estarem tratando a seu respeito e que possivelmente seria de mal, pois já estava se sentido perseguido e com certeza estavam depreciando sua pessoa.


Eu fiquei meio sem saber responder e me questionando sobre o que de fato teria motivado aquele colega de trabalho a pensar que estava sendo perseguido ou depreciado pelos colegas, pelo simples fato de ter ouvido seu nome citado em uma conversa. Perguntei a ele se teria motivos para tanto e ele falou que achava que não, pois sempre se deu bem com todos daquele grupo, mas não entendia por que estavam falando mal dele.


Novamente perguntei por que ele achava que estavam falando mal e ele respondeu que se não fosse mal, o que seria?

Fiquei pensando em quantas possibilidades que existiam daquele colega figurar numa conversa de pessoas de sua convivência, inclusive pelo simples fato de ser colega e ter amigos em comum e poderia ser assunto relativo a responsabilidade coletiva ou até algo corriqueiro do dia a dia. Também fiquei pensando, como já haviam se passado dois dias e ele ainda estava com a dúvida, quantas vezes ele não tinha se perguntado e se respondido sobre todas as possibilidades e vi que um diálogo tinha se desenvolvido dentro dele e que, possivelmente, também houve falas internas positivas, no sentido de que estavam tratando de maneira positiva ou assunto de interesse do grupo comum, mas vi que esta voz positiva tinha sido vencida.


Estas vozes falam em todos e todas.


Cada um/uma de nós trava diálogos constantes com este falar interior e tem duas interlocuções: uma negativa, que é reforçada pelo nosso medo, pela nossa falta de fé, pela nossa deficiente autoestima e pela nossa eterna desconfiança no outro/outra; e outra positiva, que está ancorada na nossa capacidade de estar sintonizado com a vontade divina e no nosso olhar para o mundo e para o/a outro/a companheiro/a de jornada com um olhar de benevolência e sem julgamentos.

Estas vozes nos desequilibram, nos deixam fragilizados ou nos fortalecem e nos fazem vitoriosos (independente dos resultados externos) nesta existência.


Se estivermos bem e equilibrado em nossa fé e no nosso amor universal e respeito, mesmo que a voz negativa nos fale, não terá força para nos envenenar, nos fazer desistir, nos fazer sofrer, ou fazer com que tenhamos atitudes defensivas para com outras pessoas ou situações, que ai sim, poderão ser o pivô de um desequilíbrio maior.

A voz "do bem" também precisa do equilíbrio e fé. Não é fazer de contas que estamos num mundo perfeito e que não precisa de cautela e de algumas certezas antes de algumas atitudes. Não é "Alice no país das maravilhas". Como diz uma poesia, "rir de tudo é desespero". É uma base certa e de confiança que poderá nos convencer inclusive que algumas situações devem cessar e que algumas atitudes não devem ser tomadas, etc.


Um bom exemplo disso aparece no nosso dia-a-dia, especialmente quando se refere ao consumo diário e nossa vida financeira. Precisamos estar sempre cientes e separando o que é desejo e o que é necessidade.

Se estivermos em desequilíbrio, até mesmo a "voz positiva" pode nos ser inimiga. Ela pode nos convencer que podemos sim comprar este ou aquele item, que teremos condições de pagar sem maiores sacrifícios... etc... O equilíbrio é que vai nos convencer se a "voz" interior está sendo usada pelo desejo ou pela razão. Não que a razão exclua os desejos, ou que ceder a um desejo seja algo de mau.

Mas se tivermos esta consciência sobre qual voz está falando e interagindo conosco, saberemos que, mesmo sendo um desejo, que temos o direito de nos satisfazer pois é honesto e justo, ela nos dirá se temos condições financeiras, físicas, psicológicas e emocionais para o realizarmos.


Mesmo sendo uma necessidade, também passará pelo crivo da "voz" interior, para nos dizer se é uma necessidade premente, irreversível, urgente, ou que pode ser devidamente programada e assim como também um desejo, pode se realizar dentro de um programa.

Qual voz nos governa?


Aquele par de sapato novo que achamos que não podemos viver sem, mesmo tendo o armário cheio e só tendo dois pés e só podendo calçar um par de cada vez; aquele carro que sonhamos; aquele parceiro/parceira, que achamos que temos direito de encontrar e usufruir, mesmo estando fora da nossa faixa etária e a nossa apresentação física estando bem longe de temos o que oferecer em troca, ou que mesmo que tenhamos um amor sincero e a lógica recomende que pode dar certo, ele/ela não nos ama; um ritual de passagem religioso, é um desejo de melhorarmos como ser rumo à divindade, conscientemente, ou é uma expressão do ego, para que possamos ostentar nosso certificado de iniciação ou de grau dentro de uma estrutura social, ou ainda é algo que nos encherá somente de orgulho passageiro e quando surgir a primeira dificuldade da vida, vamos querer ser diferentes dos nossos irmãos e irmãs e achar que conosco não poderia acontecer, já que passamos por este ou por aquele rito, que cremos de acordo com esta ou aquela religião.... e assim a lista é infindável.


A nossa voz do bem, vai nos dizer se temos saldo bancário suficiente para tanto sem nos sacrificar e sacrificar nossa família; ou se temos que priorizar as necessidades, e nos programar para que os desejos não sejam a causa de futuros sofrimentos; se estamos prontos para um amor, para doar e receber, ou se estamos somente querendo alimentar nosso ego e nosso desejo sexual e assim, nem sermos felizes nem fazermos o outro/outra feliz; se de fato queremos caminhar dentro de uma religião no sentido de nos realizarmos plenamente e com generosidade com todos os seres, ou se é só uma satisfação pessoal que excluirá todos os que não creem ou não vivenciaram o que vivenciamos...


No fundo mesmo, na realidade, não existem duas vozes. É a voz interior, do Deus que mora em nós que nos faz um diálogo constante. Se estamos em equilíbrio e ligado ao eixo central que a tudo gira, saberemos ouvir os questionamentos desse falar, e ver se o resultado será positivo ou negativo. Se assim não fosse, parece que não poderíamos ser responsabilizados pelos nossos atos, já que teríamos sido convencidos por este diálogo silencioso e constante, o que não é verdade. Mesmo que a nossa voz interior justifique todas as coisas, a consciência do Deus supremo em nós, fará com que possamos questionar sempre e não sucumbir aos desejos. O simples fato de desejarmos, pelo simples querer, não nos respalda a agirmos. Se assim fosse, se cada um/uma agisse de acordo com a seu querer, sem ouvir os questionamentos sagrados do Deus que mora em nós, nunca conseguiríamos viver em comunidade e conviver com as diferenças e com o limite que a nossa razão (que chamamos de voz do bem) nos faz ver que o que estamos desejando não é honesto, não é razoável, não é generoso, não é respeitoso para com o outro/outra ser, que tem suas limitações diante de nós.


Ah se todos nós ouvíssemos este falar de divino e estivéssemos pronto para obedecê-lo, não teríamos assassinatos nem estupros, que é a violência ao corpo (e por que não dizer à alma?) do outro/outra, baseado no desejo desregrado; não teríamos atitudes de violação ao mais vulnerável, seja pelo sexo, pela idade, pela situação social; não teríamos preconceitos religiosos, por que alguém não crê e não vive a mesma fé que vivemos; não teríamos roubos nem assaltos, nem corrupção, que fazem com que, desonestamente ou pela força, alguém seja privado dos seus bem ou serviços que tenham direitos; não teríamos a maioria dos endividados sem condições de pagar, por que deram um passo maior do que podiam e poderiam, dominados somente pelo desejo, gerando desequilíbrio pessoal e familiar.


Seria a razão divina nos dominando e nos dizendo o que é mais justo, mais honesto, mais digno e mais certo de fazermos em cada momento da nossa vida. Aí, a religião instituída serviria somente como espaço de confraternização e convivência de seres que se afinizam naquele praticar de fé, e nunca a ditadora de regras externas, que fazem com que quem não consegue viver segundo elas, por qualquer motivo que seja, ou sofra internamente por se acreditar excluído do amor de Deus, ou externamente, por ser discriminado pelos que se alvoram detentores da verdade.


O remédio para os ataques externos (de qualquer natureza) é o autoconhecimento: É saber ouvir a voz divina.


Tata Ngunz'tala

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