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O pote de azeitonas!

Hoje fiquei pensando por muito tempo numa história contada por uma pessoa muito querida que consistia basicamente, num pedido de perdão ou numa declaração de amor. Vou descrever em pequenas palavras a grande história.


“.... Em caso de alguma rusga ou situações comuns a todas as famílias, o pai, como gesto de pedido de perdão e ou declaração de amor à filha, colocava sobre a cama dela um pote de azeitonas pois, sabia o quanto ela amava aquela iguaria. Era uma festa quando aquela criança/adolescente chegava lá e achava aquele pote de azeitonas”...

Mesmo amando as azeitonas, hábito que conserva até hoje, tenho certeza que elas eram muito mais gostosas pelo que significavam. Aquele pote de azeitona era a demonstração de amor e da capacidade do pai de reconhecer que poderia ter magoado a sua amada filhota ou até mesmo que não tinha guardado mágoa por algo que a filha tivesse feito.


Ando pensando muito nisso nesses últimos dias. Penso na dificuldade que tenho de reconhecer minhas falhas e de pedir perdão.

Como será que eu demonstro ou expresso o meu pedido de perdão? Qual será o meu gesto e sinal?


Com certeza quem convive comigo sabe quando eu estou agindo para vencer um impasse.


Será que tenho sensibilidade para ver, entender e receber carinhosamente as declarações de amor, o pedido de perdão e os sinais e os gestos dos outros?


Muitas vezes queremos que seja explicitado o que a outra pessoa não tem condições de dizer e o que também não diríamos. Queremos que ela diga exatamente o que queremos ouvir, para poder decidir se perdoamos ou não. Exigimos que sejam ditas palavras que não são fáceis de serem ditas por quem nos impôs uma situação de dor, quando na verdade isso nos mostra se soubermos “ler” mais do que palavra e sim a capacidade de demonstrar arrependimento ou o amor sentido.


A Compaixão e a resiliência, sentimentos nobres e comuns a todas as pessoas emocionalmente estáveis, não deveria impor aos outros o que não damos conta de cumprir, nem exigir que sejam todos e todas iguais a nós, ou pelo menos à imagem que temos de nós mesmos. Mas, ao mesmo tempo ela pode revelar exatamente o contrário. Queremos sempre que o outro peça perdão com as palavras que temos impregnadas em nosso vocabulário sentimental. Elas podem revelar aquilo que não conseguimos lidar em nos mesmos, mas que exigimos que o outro faça. Esses sentimentos são humanos, eis aí uma das muitas diferenças que temos com outros seres vivos e que precisamos aprender a lidar com eles inclusive para aprender a separar as coisas e aprender a não exigir do outro aquilo que não conseguimos de nós mesmos. Mas tudo isso é aprendizado e é muito saudável e diria “sagrado” que aprendamos.


Sou muitas vezes tão condescendente comigo mesmo e tão duro com as outras pessoas. Por que não tenho sensibilidade para aceitar o "pote de azeitonas" como um gesto de amor recíproco, de pedido ou doação de perdão? Tem que ser sempre do meu jeito, senão não serve?

Fico emocionado pensando no gesto paterno colocando aquele pote em cima da cama e nas expectativas do retorno da filhota querida da escola, por exemplo. Também não deixo de me emocionar com o achado precioso que tanto significava!


Já que sou tão orgulhoso que não consigo dizer o que deveria ser dito, e muitas vezes o que precisaria ser dito, fico me perguntando se tenho sensibilidade, pelo menos, para saber qual gesto meu significaria o "pote de azeitonas" para outra pessoa. Também fico me perguntado se eu, orgulhoso como sou, aceitaria e entenderia a mensagem do "pote de azeitonas" que alguém me desse como símbolo de amor, de trégua de perdão (mútuo e recíproco)!


Somos muito guiados pelos sentimentos e pelas sensações e muitas vezes esquecemos que os sentimentos e sensações são só visitantes. Eles vem e vão. E nesta ilusão pautada pelos sentimentos e sensações nos atrelamos a este estado de sentir e não conseguimos ver que um pote de azeitona pode simplesmente deixar sem razão de ser e sem nenhum valor, qualquer que seja os acontecimentos que aconteceram até ali.


Talvez seja hora de nos libertarmos de muitos sentimentos que carregamos até aqui. Nos curarmos de muitas feridas. E, por fim, aceitarmos ou providenciarmos o nosso pote de azeitonas! Sem deixar de lado o exercício de além de dar o pote de azeitonas se for o caso, aprender a pedir desculpas, assumir que errou ou ainda aceitar o elogio honesto, justo que outros nos fazem. Aprender a amar a si próprio sem culpa, sem o peso dos olhos de algo superior que nos julgará e sim pelo simples e mágico fato de saber que como humanos temos muito a aprender. Enquanto houver um sopro de vida em nossa matéria seguiremos tendo a chance de mudar, de voltar atrás, de seguir em frente ou em síntese amar com pureza de sentimentos.


Ele pode valer mais do que um pote de ouro.


E com isso também vamos crescendo a ponto de o amor superar e se sobrepor e não precisaremos deixar um "pote de azeitonas" para alguém, porque simplesmente vamos diminuindo nossa capacidade de gerar dor ou vamos sendo capazes de dizer e de receber as palavras e sentimentos expressos.


Que possamos alimentar nossa alma prazerosamente e sarar as feridas e rusgas até aqui carregadas!


Gratidão

61- 98124.0946 - Vivo

"Ser luz é atrair as escuridões"

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